terça-feira, 6 de julho de 2010

A preconceituosa Rede Globo de Televisão


Índios denunciam perseguição à obra missionária nas tribos do Brasil

Reportagem preconceituosa da Globo e antropólogos deturpam e atacam missões evangélicas, e despertam críticas em todo o país.

Nos dias 19 e 25 de setembro, o programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, levou ao ar duas reportagens que indignaram as igrejas e especialmente as comunidades de índios evangélicos no Brasil. A matéria criticou missionários da missão evangélica Jovens Com Uma Missão (Jocum) de levarem índios Suruwahá, da região do Médio Purus, no Amazonas, para tratamento médico em São Paulo.

Os missionários levaram a São Paulo oito índios Suruwahá com sérios problemas de sáude. Segundo a reportagem do Fantástico e a declaração de antropólogos, os índios não poderiam ser tirados de seu “habitat natural”, sendo preferível morrerem em suas tribos do que serem levados para fora a fim de receberem tratamento e serem curados, e conseqüentemente reintegrados aos Suruwahá.

Segundo a matéria sensacionalista do Fantástico, o que os missionários fizeram “pode ter conseqüências desastrosas para a sobrevivência da tribo”, porque “Suruwahá são índios totalmente isolados e tutelados pela lei brasileira. Só a Funai pode ter acesso à aldeia.

São cerca de 140 indivíduos e entre eles é grande o número de suicídios, a chamada morte ritual: o índio se envenena para chegar à mítica ‘terra ideal’. Também as crianças que nascem com alguma deficiência física são abandonadas para morrer, porque os índios julgam que elas não têm condições de sobreviver na selva. A política de Estado brasileira é preservar o isolamento para evitar danos ao equilíbrio cultural da etnia, especialmente num povo tão fragilizado pelo alto número de suicídios. Mas as deficiências do Estado favorecem a ação dos missionários religiosos”.

Em outras palavras, para o Fantástico e especialistas entrevistados pelo programa, é errado impedir que crianças deficientes sejam abandonadas para morrer em suas tribos, mesmo que sua deficiência seja curável. Para eles, o bem maior a ser tutelado não é a vida, mas a cultura suicida e assassina de uma tribo. Detalhe: os missionários não queriam e não querem acabar com a tribo, obviamente, mas salvar a vida dos que foram abandonados para morrer.

Entre as oito pessoas “retiradas” (resgatadas) da tribo pela Jocum estão duas crianças: Sumawani, de seis meses, e Iganani, de um ano e meio. Elas foram abandonadas pela tribo para morrer. Sumawani tem hermafroditismo: seu órgão genital tem características dos dois sexos. Iganani nasceu com paralisia cerebral e não move as pernas. Se não fossem os missionários, as duas garotas morreriam. Mesmo assim, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e a Fundação Nacional do Índio (Funai) condenaram a atitude da Jocum (sic).

Posteriormente, a Funasa acabou cedendo quanto ao tratamento e levou a São Paulo a documentação necessária para que Sumawani seja operada no Hospital das Clínicas de São Paulo e Iganani faça fisioterapia. Os médicos já avaliam que Ignani pode vir a andar. Porém, a Funai disse que “não vai tirar de imediato as crianças das mãos dos missionários evangélicos, porque isso poderia prejudicar as indiazinhas, mas a intervenção dos evangélicos do grupo Jocum viola a constituição e o estatuto do índio”.

Chega a ser estranha a explicação do antropólogo João Dal Poz, da Universidade Federal do Mato Grosso, entrevistado do Fantástico, que viveu por quatro meses na aldeia e condenou a atitude da Jocum. “Como a Funai, que seria a responsável pela assistência aos índios, e a Funasa, que é a responsável pela saúde dos índios, não dão a atenção necessária, devido à distância, aos recursos parcos, a missão se aproveita e eles ficam barganhando, fazendo da atenção à saúde uma moeda de troca para a conversão dos índios”.

A reportagem aproveitou o final da fala do antropólogo para distorcer a real motivação da missão evangélica. Afirmou que os missionários salvaram as crianças por interesse, e não compaixão. Segundo a matéria, eles queriam apenas conquistar a fé delas. O que os jornalistas esquecem é que o Evangelho manda o cristão ser misericordioso, amar o próximo, independente de a pessoa ajudada aceitar o Evangelho. Simplesmente, deve-se ajudar, e pronto (Lc 10.25-35).

Gedeon Freire de Alencar, diretor pedagógico do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos, condenou a lógica do antropólogo Dal Poz. “A fala do antropólogo é uma pérola. Ele admite que a Funai não cumpre sua função e que os missionários cuidam da saúde. Ao ensejo, qual é o papel do antropólogo nesta história, além de fazer ‘análise’ para a tevê? Se os antropólogos são os únicos que têm total acesso a esses povos, inclusive usando dinheiro público, porque eles não minoraram essas condições? A ação antropológica, pelo visto, se restringe a ajudar a preservar o isolamento do grupo para o benefício da integridade étnica cultural, conquanto os Suruwahá continuem cometendo suicídios e infanticídios rituais”.

Para sustentar sua argumentação, a Globo citou textos do site da Jocum e de missionários que “comprovam a motivação de catequizar”. Que frases são essas? “Nossos olhos foram abertos para entender a maneira maravilhosa como Deus preparou esse povo para receber o amor de Jesus”; “Nossa motivação é religiosa” e a declaração da presidente da Jocum, Bráulia Ribeiro, sobre o contato com os Suruwahá: “Era uma tribo intacta. Eu falei: essa tribo é um tesouro, a gente tem que chegar lá antes que os exploradores, antes que os emissários do Diabo cheguem para destruir”.

O que essas falas provam, na verdade, é o óbvio ululante. Que a missão evangélica tem por objetivo… fazer missões, evangelizar, fazem o bem. O que não significa que o bem só deve ser feito se a pessoa a quem ele é dirigido aceitar o Evangelho. A lógica da reportagem é frágil até mesmo se concordarmos absurdamente que a ajuda era “uma moeda de troca para ganhar a fé dos índios”. Na fé cristã, o bem não é feito com vistas à conversão dos beneficiados, mas independente da conversão deles. Além disso, o que os missionários ganhariam com índios convertidos? Dinheiro deles?

Ainda na reportagem sensacionalista, o antropólogo Dal Poz afirma que “cabe à nossa sociedade respeitar essa diversidade cultural e religiosa e não impor uma outra religião a qualquer preço”. Por acaso houve uma “imposição da fé a qualquer preço”? Por acaso algum missionário disse às crianças e aos idosos que estavam abandonados à morte “Só vamos te ajudar se você aceitar nossa fé” antes de socorrê-los ou em algum outro momento? Ou será que o que houve foi um desejo de socorrer em vez de ser omisso e deixar pessoas sofrerem injustamente diante dos próprios olhos?

Índios evangélicos reagem

Pastor Henrique Terena, presidente do Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas (Conplei), criticou a condenação da atitude dos missionários pela Funai e o Fantástico. “A posição da Conplei é que os índios sejam consultados se querem ou não receber ajuda. Nessa história toda, falam a Funai, os jornalistas, os antropólogos, a Funasa e ninguém ouve os próprios índios. É necessária uma resposta do próprio indígena em relação a isso. Houve palavras de outros segmentos da sociedade brasileira, mas não do povo indígena.

Então, como índio, queremos dar nossa palavra. E nossa opinião é que o maior prejudicado em toda essa história somos nós de novo, o povo indígena”.

O índio Terena, que está acompanhando a situação, explica o caso dos Suruawhá e conta qual foi a resposta do pai de uma das crianças logo depois que criticaram o ato dos missionários, e que não foi divulgada pela mídia. “Toda cultura tem uma maneira particular de ver as coisas. Na cultura Suruwahá em específico, uma criança que nasce com algum defeito físico é morta pelos pais. Então, os missionários viram a possibilidade de salvar essas crianças. Elas conversaram com os pais dizendo: ‘Não façam isso, podemos fazer alguma coisa. Hoje há saída na medicina para essa situação, para reverter esse quadro do seu filho’. Então, os índios falaram: ‘Queremos ver. Onde é que podemos fazer isso?’ Aí pegaram uma autorização da Funai e da Funasa e levaram eles pra São Paulo, para fazer uma cirurgia. Depois da reportagem, foram perguntar ao pai sobre essa situação complicada, e ele disse: ‘Se eu for voltar para aldeia com meu filho, vou matar meu filho, porque na nossa cultura isso não pode acontecer’”.

Ele destaca ainda que os missionários fizeram sua parte e que o povo indígena não deve ser abandonado à morte em nome da “preservação de sua cultura”, pois ela pode ser preservada sem que a vida dos índios seja colocada em risco. “Apoiamos qualquer esforço que visa ao bom atendimento do índio, seja na área de saúde ou educação. Por isso, aprovamos a ajuda dos missionários. Todo ser humano necessita de uma ajuda médica ou qualquer outra ação de benefício. O povo indígena não é um grupo diferente. Embora tendo sua característica própria, cultura própria, ele precisa, por exemplo, de um atendimento médico. Não somos apenas um produto da natureza. Somos pessoas, temos sentimentos, desejos, queremos expressar isso de modo claro, para que todas as pessoas compreendam aquilo que pensamos em relação a nós mesmos”.

O líder indígena ressalta a importância do trabalho missionário. “A grande verdade é que quem tem ficado conosco, quem tem enfrentado toda e qualquer situação é o missionário que trabalha com os povos indígenas. Porque ele não está ali por questão de dinheiro, por questão financeira. Está ali por amor a Deus e às pessoas, eles amam o povo indígena. Então, essa idéia de dizer agora que todo missionário não tem feito benefício ao povo indígena é uma inverdade”.

Terena critica a Funai e a Funasa como omissas e ausentes diante dos problemas dos índios. “A Funai dizer agora que os missionários têm que ter uma nova autorização não existe. E outra coisa, a Funasa, como órgão público terceirizado pela própria Funai para fazer esse trabalho, em muitos lugares não tem feito absolutamente nada.

E ainda é contra quem faz. Ela só aparece quando é aberta uma questão como essa. Eles não podem generalizar as coisas e não têm razão de condenar o trabalho dos missionários. O que dá a entender é que os missionários estão sendo expulsos e condenados por terem salvado vidas”.

Pressão contra missões

A pressão da Globo, da Igreja Católica Romana e de antropólogos fez com que a Funasa e a Funai se desdissessem. As duas instituições haviam dado autorização à missão. Depois, quando o caso foi divulgado, disseram inicialmente que a missão evangélica não tinha autorização para isso. A Jocum, então, afirmou e provou que recebeu documentos da Funasa e da Funai que a autoriza a sair da aldeia com os índios.

Diante da verdade, a Funasa disse que vai punir os responsáveis pela autorização, e a Funai alegou que o chefe do núcleo de apoio de Lábrea, que assinou a permissão para que os índios saíssem, “não tem prerrogativa para autorizar o transporte de índios para tratamento de saúde”.

E para confirmar o quão absurda é a situação, a Funai disse ainda que “qualquer documento que venha a ser apresentado pelos missionários não invalida o mérito das denúncias contra a Jocum”.

O Ministério Público também entrou na briga. O procurador da República no Amazonas, André Lasmar, foi procurado e logo se pronunciou dizendo que “desde 2000 vem investigando a ação dos missionários e que, em 2003, o Ministério Público Federal recomendou à Funai a retirada imediata dos integrantes da Jocum das terras dos Suruwahá, mas que a recomendação não foi cumprida”. Por quê? A Funai não tinha visto nada demais. Mas, agora, estranhamente, depois da pressão da Globo e de grupos católicos romanos, passou a ver. A Funai anunciou que vai expulsar os missionários e, junto com a Funasa, enviará à aldeia um grupo de indigenistas, antropólogos e médicos.

O presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, declarou: “Vamos pedir, por portaria, que todas as missões religiosas venham à Funai e se recadastrem, apresentem seus programas de trabalho, para que a gente possa ter clareza sobre esse trabalho”. O objetivo é cercear o direito dos missionários. As missões católicas romanas, pelo contrário, permanecerão.

A líder da missão evangélica, Bráulia Ribeiro, em carta ao povo evangélico, analisa a situação. “Nenhuma sociedade tem o ‘direito’ cultural de praticar o infanticídio. Nenhuma sociedade tem o ‘direito’ cultural de aprisionar seus membros na obrigação religiosa do suicídio, nem do sacrifício humano. Nenhuma religião que inclua o genocídio como ítem essencial pode ser defendida a força de lei. Esta realização levou Naru Suruwahá, o pai da menina hermafrodita, a entender que havia esperança para sua filha deficiente, e a procurar ajuda dos brancos para salvá-la, apesar das regras de sua cultura.

Contrariando a si mesmo, contrariando o costume de seus pais, mas em harmonia com o querer de todo o seu povo, Naru saiu da aldeia com a ajuda de missionários não-índios para salvar sua filha”.

“A cultura Suruwahá como todas as culturas do mundo, é dinâmica, e tem o direito de se reinventar. O mesmo entendimento fez Muwaji uma viúva mãe de uma filha deficiente sair da aldeia na mesma época para buscar ajuda. Ela sabe que na cultura Suruwahá uma filha gerada por uma viúva teria pouca possibilidade de sobrevivência, ainda mais sendo portadora de paralisia cerebral. Muwaji pediu para sair e tratar sua filha na cidade dos ‘brancos’”.

“Uma comitiva veio a nós, missionários da Jocum, enviada por seu próprio povo. A cura das meninas ou a possibilidade de uma vida melhor, para duas bebês antes consideradas pseudo-pessoas, agora elevadas à categoria de seres humanos plenos pela cultura, com direito à vida, representa esperança de vida para todo um povo. Xagani Suruwahá, jovem companheiro de Naru, que veio como embaixador de seu povo para proteger o grupo nos momentos difíceis que todos sabiam que iriam passar, numa discussão com um investigador do Ministério Público, demonstra uma lucidez que faz falta a muitos: ‘Falamos diferente, nos vestimos diferente, moramos na selva, mas não somos bicho não. Não somos bicho de caça. Somos gente como vocês’. Chamamos a comunidade nacional e internacional a refletir e tomar as medidas necessárias para que os Direitos Humanos Universais sejam assegurados aos povos indígenas brasileiros”.

“Apesar da coragem de Naru, Xagani e Muwaji, os infanticídios, que são parte da rotina de vida do povo Suruwahá continuarão a ser praticados livremente. Crianças deficientes de qualquer idade podem ser mortas, bebês do sexo feminino têm menos direito de sobrevivência do que os de sexo masculino. Viúvas que geram são compelidas a matar seus filhos, já que a paternidade fora do casamento não pode ser reconhecida. A pressão para o suicídio ritual é sofrida por todos incessantemente. Um dia, de acordo com o próprio povo, todos se matarão e deixarão de existir na terra, para habitar o céu de sofrimento que é o céu mal-cheiroso dos que morreram envenenados. Não há outra alternativa”.

“Como etnólogos e lingüístas amamos e valorizamos as culturas com as quais trabalhamos. No entanto o entendimento que seres humanos tem valor individualmente, pelo que são em si mesmos, independentemente de sua etnicidade, cor, cultura ou religião, nos compele a protestar contra hábitos culturais e visões de mundo, que ameaçam a integridade a dignidade e a vida de seus membros”.

Fonte: APMT

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