terça-feira, 6 de julho de 2010

Informações Etnográficas


As primeiras notícias quanto a existência dos índios suruwahá datam dos anos setenta. Moradores da região dizem ter tido contatos esporádicos com índios arredios no rio Coxodoá, município de Tapauá, estado do Amazonas, entre 1972 e 1977. Em 1978, membros da organização católica CIMI (Conselho Indigenista Missionário), através de um sobrevôo na área localizaram algumas malocas de um povo indígena desconhecido, e resolveram enviar uma equipe de exploração para a região. Em 1980, após dois anos de intenso trabalho conseguem estabelecer contato amistoso com os indígenas. A via de acesso utilizada para chegar até a maloca foi uma picada aberta com rumo de 300 graus a partir da foz do Igarapé do Pretão, afluente do igarapé Riozinho.

Em 1983 Sebastião Amâncio da Costa, chefiou uma expedição da FUNAI na área do Igarapé do Coxodoá. Sua equipe era constituída por 14 pessoas, e tinha como integrantes, indígenas dos povos Wai-wai, Xereu, Ixkariana, Atroari, Deni e Baniwa. Esta equipe iniciou a abertura de uma picada saindo da boca do Igarapé Coxodoá com rumo de 180 graus com o objetivo de contactar os Suruwahá. Após 20 km de caminho aberto pela floresta, finalmente encontraram-se com os índios. Deixaram muitos presentes e regressaram a Manaus com planos de estabelecer um posto da FUNAI na área, mas nunca mais voltaram.

No ano seguinte foi criado um grupo de trabalho pelo presidente da FUNAI através da portaria n 1764/E de 14.09.1984 , propondo a demarcação da área Suruwahá. O resultado foi o seguinte: área de 233.900 ha com 500 km de perímetro, localizado no município de Camaruã no estado do Amazonas. Esta área foi demarcada pelo exército brasileiro entre novembro de 1987 e janeiro de 1988.

A área indígena Suruwahá está localizada no estado do Amazonas, na região sudoeste, a noroeste da cidade de Lábrea. O acesso à área pode ser feito por via fluvial, pelos rios Solimões, Purus, Tapauá e Cunhuá. A partir do rio Cunhuá existem duas opções: entrar no Riozinho, pegar o igarapé do Pretão e usar o varadouro utilizado pelos missionários do CIMI , ou subir mais o rio até a foz do Coxodoá e caminhar cerca de 20 quilômetros pelo varadouro da Funai. Existe ainda uma terceira possibilidade de acesso à área: Viajar de avião até a aldeia do Marrecão (tribo Deni). Neste local existe um Posto da Missão Novas Tribos, uma pista de pouso e sistema de comunicação por rádio. Do Marrecão pode-se descer o Cunhuá até o igarapé Coxodoá.

A área Suruwahá está cercada pelos rios Cunhuá e Riozinho e pelo igarapé Coxodoá. Estes três igarapés são de importância muito grande para a sobrevivência do grupo. No período de verão, quando as águas baixam, são realizadas grandes pescarias cujos frutos são os principais responsáveis pelo suprimento de proteínas e gordura durante esta época, uma vez que a caça é escassa. Existem ainda outros afluentes menores destes três igarapés, onde se encontram construídas casas comunais.

São raras as expedições do grupo para o Coxodoá, Cunhuá e Riozinho, devido à grande distância em que se encontram. Além disso, estas áreas são infestadas de mosquitos conhecidos na região como piuns, que causam grande desconforto.

O grupo, composto por cerca de 140 pessoas, é único e monolíngue. Não se tem notícia de outro grupo que fale a mesma língua. Segundo a tradição oral na aldeia, o grupo atual é formado por 7 grupos que levam uma denominação de ‘ dawa’. São eles: sarukadawa, adamidawa, tabusudawa, jukihidawa, masanidawa, kurubidawa e nakadanidawa. Esses grupos viviam separados há cerca de 100 anos atrás, mas mantinham relacionamento entre si. Fatores como chacinas e doenças deixaram estes grupos reduzidos, o que levou os remanescentes a se juntarem, formando assim o povo atual.

Alguns rapazes conhecem algumas palavras de português, que aprenderam no convívio com indigenistas e missionários.

Já foram realizadas algumas descrições preliminares da língua. A primeira tentativa de análise fonológica foi realizada por Bráulia Ribeiro em 1985 com um corpus bastante reduzido. Em 1990 Kroemer, Weber & Silva elaboraram o ‘Relatório Lingüístico Preliminar Zuruahá’. Em 1990, Edson Suzuki realizou uma pesquisa comparativa e classificou a língua Suruwahá na família Arawá. Em 1995 Márcia Suzuki publicou o Esboço Fonológico Preliminar da Língua Suruwahá e Interação entre Regras Segmentais e Prosódicas em Suruwahá.. No mesmo ano Daniel Everett publicou ‘Sistemas prosódico das línguas Arawá’, onde incluiu um capítulo sobre a língua Suruwahá. Em 1995 foi publicada no IJAL um artigo de Robert Dixon sobre Desenvolvimento do Gênero em Jarawara, que incluiu várias informações sobre o sistema fonológico do Suruwahá. Em 2000 Márcia Suzuki publicou o artigo OCP e Sibilantes no Suruwahá.

Os Suruwahá vivem juntos em casas comunais. Existem atualmente três casas construídas e três em fase de construção. A maloca é de forma cônica, cuja base é sentada numa circunferência formada por pequenos postes de um metro e meio de altura. As aberturas entre os postes que ficam em frente a algum caminho, servem de portas. A cobertura é feita de folhas de caranã trançadas em varas de paxiúba em forma de panos, que são sobrepostos de baixo para cima sobre uma estrutura formada de suportes e vigas, que se unem na ponta da cúpula formando assim o telhado. Além da circunferência da base, existe uma circunferência mais interna que serve de suporte para o teto. Ela é escorada por grandes vigas, nas quais são amarradas duas traves que saem até à circunferência exterior, que servem como repartições familiares, e principalmente para se amarrar as redes. Estas áreas são denominadas de kahu.

Cada família é responsável por sua subsistência, mas a reciprocidade generalizada faz parte da vida comunitária. A divisão de trabalho é feita basicamente por sexo. Os homens são responsáveis pela caça e preparo da mesma, derrubam a mata para fazer o plantio que é trabalho de ambos. São eles os construtores das casas, e fabricantes de seus utensílios de caça. As mulheres cuidam da comida e de tudo que se refere a seu preparo, além de cuidar das crianças e da colheita.

Nos meses de verão as pescarias são constantes e grande parte da população participa. O organizador da pesca é responsável por trazer de sua roça grande quantidade de timbó, um tipo de raiz venenosa que será esmagada e colocada em cestos feitos de folha de patauá e transportados até o local da pescaria. No momento da pesca algumas pessoas carregam o veneno para um determinado ponto do rio, e o restante se distribui pelos barrancos rio abaixo afim de esperarem o peixe intoxicado pelo veneno.

Além da carne de caça e peixe, a alimentação deles se constitui basicamente de tubérculos como batata doce, mandioca, cará, inhame, ariá, taioba, e frutas diversas. Eles cultivam cinco espécies de banana, várias espécies de abacaxi, cana-de-açúcar, caju e pupunha. Esta última, riquíssima em gordura e vitaminas, tem grande valor no seu ciclo alimentar.

Os Suruwahá são também conhecidos como ‘povo do veneno’ devido à pratica e veneração do suicídio, que constitui uma das características mais marcantes de sua cultura. O suicídio ritual é um traço da cultura Suruwahá que foi instituído há pouco mais de um século, com o suicídio de Dawari, um homem muito forte e influente. A partir daí este costume se estabeleceu e se firmou como uma maneira honrosa de se morrer. O suicídio está diretamente ligado à mitologia Suruwahá e às crenças com respeito à vida após a morte. Somente desde a época do contato, mais de 30 adultos se suicidaram. Esses números são alarmantes, já que correspondem a cerca de 25% da população. O suicídio se dá através da ingestão do sumo da raiz do timbó, a mesma substância usada nas pescarias.

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